Ela relatou a história de um menino que construiu uma réplica de sua casa, com um temporizador para que as luzes fossem apagadas, quando não houvesse ninguém no ambiente. Quando justificou o projeto, ele contou que havia perdido a irmã em um incêndio em casa e não queria que outras crianças passassem pelo que ele passou.
Outro menino, o Willian, tinha 13 anos e sonhava em ser piloto de avião, mas não era alfabetizado, mesmo estando na escola desde pequeno. Com as aulas, ele construiu um helicóptero e disse: “Meu sonho é ser aviador, mas eu quero que antes você me ensine a ler e escrever”. Debora ficou triste em saber que o menino havia passado pela escola sem aprender. Com aulas depois do horário, ele foi alfabetizado e também realizou o sonho de voar de helicóptero, graças a um empresário que assistiu a uma palestra de Debora e ofereceu o presente ao estudante. Mais que isso. Willian venceu. “Ele passou no vestibular para Física na USP”, comemora a professora.
Debora também ganhou reconhecimento, ao ser escolhida como uma das dez melhores professoras do mundo pelo Global Teacher Prize 2019, o Nobel da Educação. Mais do que o prêmio, a professora comemora o resultado das aulas de robótica com sucata, que levaram a uma redução de 93% de evasão escolar e de 95% do trabalho infantil. Também contribuiu com a retirada de uma tonelada de lixo das ruas de São Paulo e com o aumento de coletores e parcerias.
A iniciativa que beneficiou 2 mil alunos também vai crescer. O projeto virou política pública no Estado de São Paulo e deve chegar a 2,5 milhões de estudantes. Também está sendo replicada na Argentina, nos Estados Unidos e na Inglaterra. “É possível fazer muito com muito pouco”, resume Debora.
A INSERÇÃO DA TECNOLOGIA NA CAMINHADA DOCENTE
Debora Conforto é daquelas professoras que serão estudantes para sempre. Doutora em Educação na linha de pesquisa de informática na educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), ela ministrou uma das palestras mais lotadas da tarde desta terça-feira (1º) no Sesi com@Ciência. Não foi por acaso. O tema tecnologia instiga e desafia educadores porque, justamente, não é algo que se possa ignorar, e muda cada vez mais a uma velocidade alta. “Os alunos são digitais. Os professores, nem todos. Mas depois que aprendemos a usar a tecnologia a nosso favor, é tudo de bom”, disse ela.