A atual crise mundial tem três vertentes: a econômica, que teve início nos Estados Unidos, a da globalização, que deve ser revista, e a ambiental, que com as mudanças climáticas terá que mudar radicalmente sua matriz energética. Neste contexto, o Brasil tem uma chance histórica. Assim o economista, naturalizado francês, Ignacy Sachs, especialista em ecodesenvolvimento e associativismo, definiu em sua palestra "Crise como Oportunidade", o momento do País. Sachs falou na sede da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul em evento, promovido pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) e Sistema FIERGS, por meio do Instituto Euvaldo Lodi (IEL-RS). "É a desforra dos trópicos", disse ele. Sachs relacionou como vantagens do Brasil o sol "que sempre será nosso", a dotação de água, a inventividade do povo e os bancos de fomento. "Mas é preciso construir uma saída que ataque simultaneamente os problemas sociais e do meio ambiente", destacou.
Sachs defende não apenas a substituição das energias fósseis pela bioenergia, mas também uma contenção no seu uso e o aumento de sua eficiência. Além disso, ele acredita que será o conjunto de energias renováveis que farão a substituição. "Não há uma alternativa, mas várias", salientou. O economista também insiste que é o momento de reconceituar o desenvolvimento, passando pelos direitos humanos. "Incluem-se os direitos políticos, civis, econômicos, sociais e coletivos, isto é, o da infância, de saneamento, de cidade", explicou.
O economista coloca como importante um amplo debate sobre um projeto nacional. "O desenvolvimento deve partir do que se tem e selecionar o que vem de fora", afirmou. "Não sou contra a abertura do mercado, mas acho que devem haver mais critérios para se abrir", argumentou. "Também precisamos aprender a fazer bom uso do sistema financeiro público. O Brasil conta hoje com o maior banco de desenvolvimento público, que é o BNDES, além de Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil, Banco do Nordeste, etc. É importante criar condições e estabelecer regras de jogo condicionando à boa conduta", comentou. Como exemplo, ele citou a necessidade de medidas para liberação de crédito, como "não comprar madeira extraída ilegalmente ou soja de áreas desmatadas de forma ilegal". São formas de monitoramento que permitem atrelar pequenas e grandes empresas, disse. "É preciso organizar as relações para a partir daí criar o caminho do futuro: o desenvolvimento social, ambiental e econômico sustentável."
Sachs também defendeu uma reforma territorial. "Temos que acabar com a idéia que o rural é obsoleto e a cidade é o futuro", sentenciou. "Precisamos buscar soluções mais equilibradas. Assim como precisamos buscar o diálogo com outros países tropicais, a fim de obter novos focos de debate", concluiu.
A palestra integra o projeto Sindicato para uma nova Indústria e precedeu o wokshop que discutiu o papel das entidades no contexto atual, promovido pelo IEL-RS em parceria com a CNI.