O ano de 2011 encerra repleto de incertezas políticas e econômicas. No âmbito internacional, a dificuldade em implementar uma solução para a crise fiscal nos países altamente endividados contribuiu para contaminar o sentimento dos investidores e consumidores. Já no Brasil, o desaquecimento na economia ocorre, principalmente, devido ao acúmulo de estoques na indústria, à retração no consumo das famílias e à queda dos investimentos.
Esses cenários e as repercussões foram avaliados pelo presidente da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (FIERGS), Heitor José Müller, durante o Balanço 2011 e Perspectivas 2012 da Economia, realizado pela entidade, nesta segunda-feira (12). "A desaceleração menor no Estado em relação ao País ocorre por causa da nossa agropecuária, que carrega o Brasil nas costas", afirmou Müller. Entre janeiro e setembro deste ano, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro cresceu 3,2%, e 5,6% o gaúcho, este puxado especialmente pela agropecuária, com 12,8% de aumento no período.
O presidente da FIERGS, porém, salientou que a contribuição agrícola não deve ser a mesma em 2012 no Brasil. Em um cenário otimista, a perspectiva é de um incremento de 3% no próximo ano, com uma queda de até 2% para o cenário moderado, e de 3,5%, para o pessimista. Para o Rio Grande do Sul, a previsão mais positiva para o setor é de uma elevação de 1,5% em 2012, com -1,2% para a moderada e -4,5% para a pessimista.
O acúmulo de estoques na indústria nacional foi impulsionado pela substituição do produto nacional pelo estrangeiro. Nos nove primeiros meses do ano, por exemplo, enquanto a produção industrial no Brasil cresceu 1%, a importação de bens duráveis e intermediários avançaram, respectivamente, 30% e 9%. Já o consumo das famílias caiu de 2,4%, no terceiro trimestre de 2010, para 0,1%, no mesmo período de 2011. A retração é explicada pelo endividamento dos brasileiros, cujo nível ocupa 42% da renda − o mais alto desde 2008. Outro ponto que impacta no cenário nacional é a queda dos investimentos, que desabou de 3,6% para -0,2%.
Heitor José Müller afirmou que é preciso encontrar formas de proteger a indústria nacional. Um dos pontos defendidos para desonerar o Custo Brasil é a redução da taxa de juros e da carga tributária, e de um gasto mais eficiente por parte dos governos, com aumento dos investimentos em infraestrutura. Além disso, é necessário criar uma política de salvaguarda contra as importações. "Não dá para exportar matéria-prima barata e importar manufaturados. Há uma conjugação de fatores adversos: a baixa competitividade do Brasil eleva os custos industriais e os preços dos produtos fabricados no País", observou.
Müller disse que entram no nosso mercado os artigos importados, originários até de países que praticam o dumping social e o dumping cambial. "Defendemos uma política de defesa comercial, uma rígida reciprocidade de tratamento. Não se trata de reserva de mercado, que condenamos, mas de dispormos da igualdade de competição com os importados. A FIERGS não aceita que o Brasil seja uma "feira livre de importados", analisou.