A pesquisa da Sondagem Industrial, divulgada nessa quinta-feira (23) pela Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (FIERGS), revela que 65,9% das empresas gaúchas do setor registraram queda na produção em março em função da crise provocada pelo coronavírus. Em índices que variam de 0 a 100 pontos, sendo que abaixo de 50 indica retração em relação ao mês anterior, o da produção ficou em 30,5, o menor valor já apurado desde o início da série, em janeiro de 2010. “Os impactos negativos da crise são imensos e tendem a se agravar. Não apenas os indicadores de atividade, mas também os de expectativas para os próximos seis meses, que até março estavam acima dos 50 pontos, desabaram e atingiram valores sem precedentes”, afirma o presidente da FIERGS, Gilberto Porcello Petry.
Grande parte dos índices sofreu intensas quedas e registrou pisos históricos no levantamento, realizado com 174 indústrias entre 1º e 14 de abril. O emprego e a utilização da capacidade instalada (UCI) tiveram fortes recuos no mês passado. O primeiro passou de 54,1, em fevereiro, para 44,2 pontos, o pior resultado já observado para março; e a UCI caiu de 71%, em fevereiro, para 59,5%, revelando alta ociosidade. O indicador de UCI em relação ao usual chegou a um nível nunca visto: 30,4 pontos. Nesse caso, valores inferiores a 50 indicam UCI abaixo do normal para o mês.
Os estoques de produtos finais caíram na comparação com fevereiro e ficaram muito abaixo do desejado pelas empresas. É o que demostram os indicadores que medem, respectivamente, os estoques em relação ao mês anterior (46,3 pontos) e ao planejado (45,8).
Quanto aos maiores problemas enfrentados pela indústria gaúcha no primeiro trimestre de 2020, a demanda interna insuficiente, com 40,4%; e a taxa de câmbio, com 40%, foram os mais apontados pelas empresas consultadas. Diante da intensidade da crise, a elevada carga tributária, que normalmente lidera esse ranking, ficou em terceiro lugar, com 38,7% das respostas.
Com esse cenário, as condições financeiras das empresas também se agravaram entre janeiro e março. Os indicadores de satisfação com as margens de lucro e com as condições financeiras das empresas registraram quedas recordes na comparação com o trimestre anterior: de 46,7 para 35 e de 50,5 para 40,8 pontos, respectivamente. Valores abaixo de 50 pontos revelam insatisfação dos empresários. Também o acesso ao crédito ficou mais difícil nesse período, e seu indicador recuou de 44 para 36,1 pontos. Por fim, o indicador de preços das matérias-primas cresceu de 59,4 no último trimestre de 2019 para 64 pontos no primeiro de 2020, revelando que o aumento dos preços ganhou força no período.
EXPECTATIVAS
Em relação aos próximos seis meses, 71,7% dos empresários gaúchos consultados na Sondagem de abril projetam quedas para a demanda (29,2 pontos). Em março eram de 11,3%. Da mesma forma, o índice para as exportações atingiu 31,3 pontos, em que 65,7% esperam diminuição nas vendas para o exterior (no mês passado eram apenas 6,9%). Para o emprego, cujo índice foi de 33,2 pontos, 61,4% esperam diminuir o número de empregados em função da crise, contra 8,4% apontados em março.
Os investimentos da indústria gaúcha devem sofrer grande contração nos próximos seis meses. O índice de intenção de investir caiu 24,9 pontos ante março, para o menor valor da série, 30,2, em abril. O resultado disso é que 77,8% revelaram não ter intenção de investir.
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