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Uma comitiva liderada pelo presidente do Sistema FIERGS, Claudio Bier, reforçou nesta segunda-feira (28), em Brasília, as demandas da indústria gaúcha com relação ao aumento de tarifas anunciadas pelo governo dos EUA a produtos brasileiros. O grupo teve agendas no Palácio do Planalto e na Confederação Nacional da Indústria (CNI).  

Ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, foi dirigida uma carta (leia na íntegra abaixo) ressaltando os principais pontos defendidos pelo Sistema FIERGS desde o início do impasse tarifário: a priorização da via diplomática e da negociação, a não adoção de retaliações, a manutenção da tarifa atual e a tentativa de prorrogação do prazo de entrada em vigor da medida por pelo menos 90 dias.  

O documento, entregue à assessoria da Presidência, aponta, ainda, a necessidade de antecipação de medidas internas de apoio, como compensações tributárias, flexibilizações trabalhistas para manter empregos, acesso facilitado ao crédito e capital de giro para as indústrias afetadas e abertura de novos mercados. 

Medidas compensatórias às indústrias também foram o tema da carta entregue pessoalmente por Bier ao vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, após solenidade no Palácio do Planalto. O pedido trata especificamente da prorrogação, por um ano, do prazo que as empresas têm para exportar bens beneficiados por regimes fiscais especiais, como Drawback, Recof e Recof-Sped.  

Com a dificuldade de exportar para o mercado americano, as indústrias gaúchas não conseguirão redirecionar os produtos a tempo de cumprir o prazo e evitar a taxação dos itens importados utilizados na produção dos bens. Na carta, Bier alerta que, mesmo que a taxação de 50% anunciada pelo presidente Donald Trump não se concretize, existem taxações setoriais já vigentes e muitos pedidos cancelados. “As empresas exportadoras enfrentam prejuízos comerciais e forte incerteza sobre a retomada do mercado em curto espaço de tempo”, diz o texto (leia íntegra abaixo). 

Os regimes aduaneiros especiais são tratamentos fiscais específicos concedidos às empresas exportadoras, suspendendo os tributos normalmente exigidos nessas operações. A prorrogação do prazo para o cumprimento das obrigações representa uma forma de mitigar os prejuízos das empresas que não conseguirem realizar as exportações dentro do período originalmente previsto, já que, nesses casos, há o risco de os insumos utilizados na fabricação das mercadorias terem de ser nacionalizados, com a consequente cobrança de impostos, juros e multas. Uma medida semelhante de auxílio foi adotada durante as enchentes de 2024 no Rio Grande do Sul. 

Nesta terça-feira (29), Bier participa da reunião da diretoria da CNI. A crise tarifária será o principal tema a ser debatido. 

Leia na íntegra a carta endereçada ao presidente Lula 

Porto Alegre, 28 de julho de 2025. 

Exmo. Sr. 

Luiz Inácio Lula da Silva 

Presidente da República do Brasil 

Prezado Presidente: 

A Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (FIERGS) vem, por meio desta, manifestar sua extrema preocupação com os efeitos que as tarifas anunciadas pelo Governo dos Estados Unidos trarão ao setor produtivo brasileiro, em especial à indústria gaúcha.   

De acordo com estudo da Confederação Nacional da Indústria (CNI), o Rio Grande do Sul será o segundo estado mais impactado do país, com uma estimativa de queda de R$ 1,9 bilhão no seu PIB. Esse dado evidencia um risco real de retração no faturamento, suspensão de investimentos e perda de empregos em cadeias produtivas essenciais para nossa economia.   

A indústria gaúcha tem forte vocação exportadora, com 18,9% de seu faturamento proveniente do mercado externo – acima da média nacional de 16,4%.  Os Estados Unidos são nosso principal parceiro comercial no setor de transformação, respondendo por US$ 1,8 bilhão (11,2%) das exportações do RS em 2024.  

Atualmente, mais de 1.100 indústrias gaúchas exportam para os EUA, representando 10% do total nacional. Os setores mais expostos empregam 145 mil trabalhadores (21,2% da força industrial do estado), com destaque para:   

- Máquinas e equipamentos   

- Químicos   

- Metalurgia e metalmecânico   

- Móveis, madeira e plásticos   

- Couro e calçados   

- Celulose e papel   

- Tabaco   

Diante da gravidade do cenário, solicitamos, com máxima urgência, a liderança do Governo Federal para as seguintes ações prioritárias:   

1. Manutenção da tarifa atual para exportações brasileiras aos EUA, evitando a entrada em vigor do aumento anunciado;   

2. Prorrogação por ao menos 90 dias do prazo das novas tarifas, permitindo negociações técnicas e diplomáticas;   

3. Evitar retaliações ou escaladas comerciais, priorizando uma estratégia de diplomacia empresarial com foco em argumentos econômicos e na preservação das relações históricas com o mercado norte-americano.   

Acreditamos que essas iniciativas são fundamentais para proteger a indústria nacional e abrir espaço para um diálogo responsável com os EUA, visando à reversão das medidas anunciadas. 

Paralelamente, defendemos a adoção de ações compensatórias internas, como:   

- Facilitação de crédito e capital de giro para empresas afetadas;   

- Reforço de mecanismos de reintegração tributária (ex.: Reintegra);   

- Incentivos à manutenção de empregos;   

- Ações de acesso a novos mercados.   

A FIERGS reafirma sua confiança na capacidade do Governo Federal para liderar essa agenda com equilíbrio, firmeza, e sensibilidade considerando as especificidades regionais da indústria brasileira.  

 Colocamo-nos à disposição para contribuir na formulação e execução dessas medidas.   

 Cordialmente,   

                                 Claudio Bier, presidente do Sistema FIERGS. 

 

Leia a íntegra da carta apresentada ao vice-presidente Geraldo Alckmin 

Porto Alegre, 28 de julho de 2025. 

Exmo. Sr. 

Geraldo Alckmin 

Vice-presidente do Brasil e Ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) 

Prezado Vice-presidente: 

O cenário promovido pelo Governo estadunidense de alterações tarifárias às importações, têm gerado, além de incertezas, efeitos significativos sobre as exportações brasileiras. Para além de contar com insegurança em seus projetos futuros, as empresas exportadoras de nossa base industrial já sofrem com considerável redução nos embarques para os Estados Unidos. Assim, no intuito de defender os interesses desse setor drasticamente afetado, vimos propor uma medida que possibilite mitigar os efeitos dos prejuízos sofridos. 

Como é de seu conhecimento, a indústria do RS tem forte relação comercial com os EUA, sendo o segundo estado cujas exportações são mais dependentes daquele país, representando 10% do total nacional das exportações. No ano de 2024 foram exportados US$ 1,8 bilhões, por aproximadamente 1,1 mil empresas gaúchas. O mercado norte-americano representou 11,2% das vendas da indústria de transformação do RS, sendo que a pauta de exportações é concentrada em bens industriais, num percentual de 99%. 

Neste contexto apreensivo, mesmo que não haja uma taxação efetiva na ordem de 50% anunciada pelo Presidente Donald Trump, as compras de importadores estadunidenses já estão sendo comprometidas. Dentre os principais relatos da indústria gaúcha, destaca-se a suspensão de vendas para o mercado dos EUA que, para além das perdas, muitas delas foram desenvolvidas especificamente para o consumidor americano. Dessa forma, as empresas exportadoras contam com prejuízos comerciais e forte incerteza sobre a retomada do mercado em curto espaço de tempo. 

Neste sentido, solicitamos a rápida análise desta Secretaria para prorrogar por um ano o prazo de cumprimento de exportação, no âmbito dos regimes aduaneiros especiais de Drawback, Recof e Recof-Sped, referente aos atos concessórios outorgados e solicitações que vencem entre julho de 2025 e julho de 2026. 

Contando com a sua sensibilidade a este tema, renovamos nossa alta estima e consideração. 

Atenciosamente, 

Claudio Bier, presidente da FIERGS. 

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Publicado segunda-feira, 28 de Julho de 2025 - 18h18